A Bíblia foi traduzida, ao longo dos séculos, em mais de 2400 línguas e idiomas diferentes, incluindo a língua portuguesa. Desde as primeiras traduções parciais em português arcaico no século XIII, diversas versões estão disponíveis ao público em livrarias, bibliotecas e na internet.
Idade Média
A primeira tradução que se tem
notícia é a do rei Dinis de Portugal, conhecida como Bíblia de D. Dinis, que teve grande tiragem
durante o seu reinado. É uma tradução dos 20 primeiros capítulos de Gênesis,
a partir da Vulgata.
Houve também traduções realizadas pelos monges do Mosteiro de Alcobaça, mais especificamente
o livro de Atos dos Apóstolos.
Durante o reinado de D. João I de Portugal, este ordenou que fosse
traduzida novamente a Bíblia no vernáculo. Foi publicada grande parte do Novo
Testamento e os Salmos,
traduzidos pelo próprio rei. A sua neta, D. Filipa, traduziu os evangelhos do francês. Bernardo de Alcobaça traduziu Mateus e Gonçalo
Garcia de Santa Maria traduziu partes do Novo Testamento.
Em 1491 é imprimido o comentário sobre o Pentateuco que,
além do Pentateuco, tinha os Targumim sírios
e o grego de Onquelos. O tipógrafo Valentim Fernandes imprime De Vita Christi, uma harmonia dos Evangelhos.
Os "Evangelhos e Epístolas", compilados por Guilherme de Paris e
dirigidos ao clero, são imprimidos pelo tipógrafo Rodrigo Álvares. Numa pintura
de Nuno Gonçalves, aparece um rabino segurando
uma Torá aberta.
Em 1505, a rainha Leonor ordena a
tradução de Atos dos Apóstolos e as Epístolas de Tiago, Pedro, João e Judas. O
padre Antonio Ribeiro dos Santos é responsável por traduções dos Evangelhos de
Mateus e Marcos. Em 1529, é publicada em Lisboa uma
tradução dos Salmos feita por Gómez de Santofímia, que
teve uma 2ª edição em 1535. É bem possível, devido à proximidade com a Espanha,
traduções em espanhol fossem conhecidas, como as de João Pérez de Piñeda, João de Valdés e Francisco de Enzinas. O
padre jesuíta Luiz
Brandão traduziu os quatro Evangelhos.
Durante a Inquisição houve
uma grande diminuição das traduções da Bíblia para o português. A Inquisição,
desde 1547 proibia
a posse de Bíblias em línguas vernaculares, permitindo apenas a Vulgata latina,
e com sérias restrições.
Por volta de 1530, António Pereira Marramaque,
de uma família ilustre de Cabeceiras de Basto, escreve sobre a utilidade de
verter a Bíblia em vernáculo. Poucos anos depois, é denunciado à Inquisição por
possuir uma Bíblia na lingua vulgar.
Uma tradução do Pentateuco é
publicada em Constantinopla em 1547, feita por judeus
expulsos de Portugal e Castela. Abraão Usque,
judeu português, traduziu e publicou uma tradução conhecida como a Bíblia de Ferrara, em espanhol. Teve que
publicar em Ferrara,
por causa de perseguição.
Tradução de João Ferreira de Almeida
A tradução feita por João Ferreira de Almeida é
considerada um marco na história da Bíblia em português porque foi a primeira
tradução do Novo Testamento a partir das línguas
originais. Anteriormente supõe-se que havia versões do Pentateuco traduzidas
do hebraico. De acordo com esses registros, em
1642, aos 14 anos, João Ferreira de Almeida teria deixado Portugal para viver
em Málaca (Malásia). Ele havia ingressado no protestantismo, vindo do
catolicismo, e transferia-se com o objetivo de trabalhar na Igreja Reformada
Holandesa local.
Ele já conhecia a Vulgata,
já que seu tio era padre. Após converter-se ao protestantismo aos
14 anos, Almeida partiu para a Batávia.
Aos 16 anos traduziu um resumo dos evangelhos do
espanhol para o português, que nunca chegou a ser publicado. Em Malaca traduziu
partes do Novo Testamento também do espanhol.
Aos 17, traduziu o Novo
Testamento do latim,
da versão de Theodore Beza, além de ter se apoiado nas
versões italiana, francesa e espanhola.
Aos 35 anos, iniciou a tradução a
partir de obras escritas no idioma original, embora seja um mistério como ele
aprendeu estes idiomas. Usou como base o Texto Massorético para o Antigo
Testamento e uma edição de 1633 (pelos irmãos
Elzevir) do Textus Receptus. Utilizou também traduções da
época, como a castelhana Reina-Valera.
A tradução do Novo Testamento ficou pronta em 1676.
O texto foi enviado para a Holanda para
revisão. O processo de revisão durou 5 anos, sendo publicado em 1681, após terem sido
feitas mais de mil modificações[carece de
fontes]. A razão é que os revisores holandeses queriam harmonizar a
tradução com a versão holandesa publicada em 1637. A Companhia das Índias Orientais ordenou
que se recolhesse e destruísse os exemplares defeituosos. Os que foram salvos
foram corrigidos e utilizados em igrejas protestantes no Oriente, sendo que um
deles está exposto no Museu
Britânico.
O próprio Almeida revisou o texto
durante dez anos, sendo publicado após a sua morte, em 1693. Enquanto revisava,
trabalhava também no Antigo
Testamento. O Pentateuco ficou pronto em 1683. Há uma tradução dos Salmos que
foi publicada em 1695,
anexo ao Livro de Oração Comum, anônima, mas
atribuída a Almeida. Almeida conseguiu traduzir até Ezequiel 48:12
em 1691,
ano de sua morte, tendo Jacobus op den Akker completado a
tradução em 1694.
A tradução completa, após muitas
revisões, foi publicada em dois volumes, um 1748, revisado pelo
próprio den Akker e por Cristóvão Teodósio Walther, e outro em 1753. Em 1819, a Sociedade
Bíblica Britânica e Estrangeira publica uma 3ª edição da Bíblia
completa, em um volume.
Há também as edições impressas em
na colônia dinamarquesa de Tranquebar, que datam
de 1719 a 1765. São edições parciais
da Bíblia, que foram obtidas à medida que os revisores terminavam seu trabalho.
Resumindo, foram impressas:
·
NT, 1ª
edição, Amsterdã, 1681
·
Impressões
em Tranquebar:
Gênesis, 1719; Oséias a Malaquias, 1732; Josué a Ester, 1738; Jó a Cânticos,
1744; Isaías a Daniel, 1751; O Livro de Salmos, 1740; Os Evangelhos, 1760; Novo
Testamento, 1765.
O trabalho de João Ferreira de
Almeida é para a língua portuguesa o que a Bíblia de Lutero é para alemã,
a King James Version para a inglesa e Reina-Valera é
para a espanhola. No entanto, a única tradução moderna
em Português, que utiliza os mesmos textos-base em grego e hebraico que foram
utilizados por João Ferreira de Almeida, é a versão Almeida Corrigida Fiel, da Sociedade
Bíblica Trinitariana do Brasil. As demais traduções modernas, embora utilizem o
nome "Almeida", como a Almeida Revista e Atualizada e Almeida Revista e Corrigida baseiam-se
em maior ou menor grau nos manuscritos do chamado Texto Crítico, que passou a
ser utilizado somente a partir do século XIX. Teófilo Braga,
ao comentar sobre a versão original de Almeida, disse: "É esta tradução o
maior e mais importante documento para se estudar o estado da língua portuguesa
no século XVIII."
Tradução de António Pereira de Figueiredo
O Novo
Testamento foi publicado entre 1778 e 1781 em seis volumes.
O Antigo Testamento foi publicado entre 1782 e 1790 em 17 volumes. A
versão em sete volumes, que é considerada padrão, foi publicada em 1819, sendo que a versão
em volume único foi publicada em 1821.
Por ser uma versão com português
mais recente, foi considerada melhor que a de Almeida, apesar de não ter sido
baseado nos idiomas originais. Nota-se que foi a Sociedade
Bíblica Britânica e Estrangeira que editou as revisões de 1821
(completa) e 1828 (sem
os deuterocanônicos). A Sociedade Bíblica de Portugal foi
fundada em 1835 e
distribuiu essa, além da versão de Almeida. Teve boa acolhida entre católicos e
protestantes.
Traduções em Portugal, após
Almeida e Figueiredo
Traduções parciais
Padre António Ribeiro dos Santos
traduziu os Evangelhos de Mateus e Marcos no final do século XIX,
baseado na Vulgata.
Traduções completas
O comerciante natural de Hamburgo, Pedro Rahmeyer é responsável
por uma tradução completa da Bíblia em português. Ficou conhecida como
"Bíblia de Rahmeyer" e está em exposição no Museu de Hamburgo.
Supõe-se que, durante os 30 anos que ficou em Lisboa, tenha
traduzido do alemão.
Em 1933, com apoio papal, o padre Matos Soares publica
sua tradução da Bíblia em português, traduzida a partir da Vulgata.
Ganhou a aprovação da Igreja
Católica, sendo a mais popular no Brasil, desde que foi publicada em 1942.
A Tradução
Interconfessional em Português Corrente foi fruto de um
trabalho conjunto entre católicos e protestantes. Iniciada em 1972, é revisada em 2002.
Traduções no Brasil
Traduções parciais
A primeira tradução realizada no Brasil foi
feita pelo bispo Joaquim de
Nossa Senhora de Nazaré. Era um Novo Testamento traduzido a partir
da Vulgata.
No prefácio, havia acusações contra os protestantes, chamando suas versões da
Bíblia de "falsificadas". Foi publicada em São Luís, no Maranhão,
em 1847,
sendo impressa em Portugal em 1875.
Em 1879, a Sociedade de
Literatura Religiosa e Moral publica uma revisão do Novo
Testamento de Almeida. Foi revisada por José Manoel Garcia, pelo
pastor M. P. B. de Carvalhosa e pelo pastor Alexandre Latimer
Blackford.
O imperador D. Pedro II era um profundo admirador da cultura
judaica. Após aprender o hebraico,
que era a sua língua favorita, traduziu partes da Bíblia, como o livro de
Neemias, além de partes do Velho
Testamento para o latim.
F. R. dos Santos Saraiva,
autor de um dicionário latino-português, traduz os Salmos, com o
título de Harpa de Israel,
em 1898.
Duarte Leopoldo e Silva traduz e
publica os Evangelhos em forma de harmonia. O Colégio da Imaculada Conceição, Botafogo, Rio de Janeiro,
publica uma tradução dos Evangelhos e Atos, do francês,
preparada por um padre, em 1904. Padres franciscanos iniciam
um trabalho de tradução a partir da Vulgata, sendo concluído em 1909. No mesmo ano, o
padre Santana traduz o Evangelho de Mateus diretamente do grego.
É a primeira tradução parcial da Bíblia, em português, dos idiomas originais
feita por um padre católico, embora tenha sido apoiado pelo latim.
J. L. Assunção traduz o Novo
Testamento a partir da Vulgata em 1917. Surge, no mesmo ano,
o livro de Amós, traduzido por Esteves Pereira.
Foi traduzido do etíope. Em 1923, J. Basílio Pereira
traduz o Novo Testamento e os Salmos a partir da
Vulgata.
O então padre Huberto
Rohden foi o autor de uma tradução do Novo Testamento. Começou
a traduzir enquanto estudava na Leopold-Franzens-Universität
Innsbruck, Áustria, completando em 1930. Foi publicado pela Cruzada da Boa Imprensa (atualmente
é pela editora Martin Claret). Utilizou como base
o Textus Receptus.
O rabino Meir Matzliah Melamed traduz
a Torá,
numa edição sem data, com o nome de A Lei de Moisés e as Haftarot. Foi
publicada em 1962.
A tradução foi revisada e lançada, em 2001, com o nome de A Lei de
Moisés. Está disponível pela Editora Sêfer.
Em 1993 é publicado o
Novo Testamento da Nova Versão Internacional. Em 2005, o pastor batista Fridolin
Janzen traduz o Novo Testamento em português, baseado no Textus Receptus. O
texto está disponível no seu website,
e está para ser imprimida.
Traduções completas
A primeira tradução completa foi
a Tradução Brasileira. Foi uma tradução da Bíblia
que não contava somente com teólogos, como H. C. Tucker, William Cabell Brown, Eduardo Carlos Pereira, mas também com
eruditos como Ruy Barbosa, José Veríssimo e Virgílio Várzea.
A tradução se principiou em 1902. Os dois primeiros
evangelhos foram editados em 1904, e depois de alguma crítica e revisão, o Evangelho de Mateus saiu novamente em 1905. Os Evangelhos e
o livro dos Atos dos Apóstolos foram publicados em 1906, e o Novo Testamento
completo em 1910.
Publicada em sua inteireza em 1917, apresenta características eruditas, sendo bastante
literal em relação aos textos originais.
Não obteve o agrado dos leitores,
por traduzir nomes hebraicos de uma maneira próxima à daquela língua, falta de
literalidade e falta de revisões. Ver artigo principal: Tradução Brasileira.
A Almeida Revista e Corrigida foi a
primeira Bíblia a ser impressa no Brasil, em 1948. Está em circulação a
revisão de 1995.
Ver artigo principal: Almeida
Revista e Corrigida.
A Editora Paulinas publicou
desde a década de 1950 até 1990, a Bíblia
traduzida da Vulgata Latina pelo padre português Mattos
Soares na década de 1930.
Publicada em 1959, a Almeida Revista e
Atualizada utiliza o Texto Crítico,
ao invés do Textus Receptus. Ganhou aprovação da CNBB. Ver artigo
principal: Almeida Revista e Atualizada.
Em 1959 é publicada a tradução
dos monges Meredsous
em português. O trabalho de tradução foi coordenado pelo franciscano João José
Pedreira de Castro, do Centro Bíblico de São Paulo. Foi traduzida a
partir da versão francesa publicada na Bélgica.
A Tradução do Novo Mundo das Escrituras
Sagradas é uma tradução da Bíblia feita
pelas Testemunhas de Jeová. Foi publicada em 1963, sendo traduzida da
versão inglesa. Recebeu uma revisão em 1984 (em português em 1986), com a
inclusão de notas marginais. Ver artigo principal: Tradução do Novo Mundo das Escrituras
Sagradas.
A Versão Revisada foi publicada
em 1967,
pela Imprensa Bíblica
Brasileira e pela Juerp. É de orientação batista.
Ver artigo principal: Versão revisada segundo os melhores
textos.
Em 1976 é publicada a Bíblia de Jerusalém, pelas Edições Paulinas. É baseada na versão francesa,
sendo que as notas e comentários são traduzidos. Em 2002 é publicada a
revisão, chamada de Nova Bíblia de Jerusalém.
Em 1981 é publicada a Bíblia Viva, uma paráfrase da
Bíblia. A versão original foi elaborada por Kenneth Taylor e foi
traduzida na base da equivalência dinâmica (idéia
por idéia). Já está na 2ª edição.
Em 1982 é publicada a Bíblia Vozes, pela editora Vozes,
traduzida por uma comissão, presidida pelo franciscano Ludovico Garmus. No mesmo
ano é publicada uma versão pela editora Santuário. No ano
seguinte é publicada a Bíblia Mensagem de Deus pelas edições Loyola.
Em 1988 é publicada A Bíblia na Linguagem de Hoje,
caracterizada por ter uma linguagem popular e tradução flexível. Um exemplo é a
tradução de Juízes 3:24: Aí
os empregados chegaram e viram que as portas estavam trancadas. Então pensaram
que o rei tinha ido ao banheiro. Muitos eruditos vêem uma excessiva
utilização de linguagem popular, que pode comprometer a fidelidade com o texto
original. Devido a esses problemas, essa tradução passou por um grande processo
de revisão, que resultou na Nova Tradução na Linguagem de Hoje,
em 2000.
Em 1990 é publicada a Edição Pastoral. Coordenada pelo teólogo Ivo Storniolo, é uma
tradução afinada com a teologia da libertação, sendo voltada para
uso dos leigos. Ver artigo principal: Edição Pastoral.
Ainda em 1990, a Editora Vida publicou
a sua Edição
contemporânea da Bíblia de Almeida (EAC). Essa edição eliminou
arcaísmos e ambiguidades do texto original de Almeida, mas com a promessa de
preservar as excelências do texto que lhe serviu de base.
Em 1997 é publicada a Tradução Ecumênica da Bíblia (sendo
baseada na versão francesa), sendo parte de sua comissão católicos,
protestantes e judeus. O Antigo
Testamento foi mantido do modo como se utiliza nas Bíblias judaicas.
Em 2001, a CNBB produziu uma
tradução comemorativa dos 50 anos da CNBB, e já está na 3ª edição e envolveu
cooperação entre sete editoras católicas. No mesmo ano é publicada a Torah Viva,
traduzida por Adolfo Wasserman, baseada
na versão inglesa. É publicada também a versão completa da Nova Versão Internacional.,
Em 2002 é publicada a Bíblia do Peregrino, traduzida por Luís Alonso
Schökel. É uma tradução da versão espanhola.
Em 2006 é publicada a Bíblia Hebraica. É o
primeiro Tanakh completo
publicado em português, desde 1553. Os tradutores foram David Gorodovits e Jairo Fridlin e foi
revisada por rabinos e professores.
Em 2007 é publicada a Bíblia Almeida Século 21,
uma atualização da "Versão Revisada" do texto de Almeida (também
conhecida como "Versão revisada segundo os melhores textos") por uma
parceria entre a Imprensa Bíblica Brasileira/Juerp, a Editora Hagnos e a Editora Atos.
Traduções feitas em outros países
A Sociedade Bíblica Trinitariana,
fundada no Reino Unido em 1831, também produziu uma
versão para o português do Novo Testamento, em 1883. É baseada, no Textus
Receptus, assim como todas as Bíblias da Sociedade Bíblica Trinitariana.
FONTE WWW.WIKIPEDIA.ORG
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